segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Reunião sobre Turismo e História (Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ):

Há alguns dias, André Daibert levantou, lista da Anptur, a questão da escassez de trabalhos contemplando a relação Turismo e História no Brasil, o que rapidamente encontrou eco entre os participantes, que se deparam com a dificuldade no dia a dia de encontrar informações históricas acerca do turismo para pesquisas, ou mesmo que se tem como ofício a escrita da história do turismo.

Os debates ganharam corpo na lista e se sentiu a necessidade de um encontro presencial para que se debatessem as inquietações e se pensasse em algo que pudesse ajudar a mudar o quadro. Foram sugeridos dois encontros presenciais: um em Niterói-RJ, em agosto, e um na próxima ANPTUR, em setembro.

O encontro de Niterói ocorreu na quinta-feira, dia 26 de agosto, contando com a presença dos seguintes professores: Aguinaldo César Fratucci, Cláudia Moraes, Marcello Tomé, Valéria Guimarães (todos do Depto de Turismo da Universidade Federal Fluminense) e André Daibert (CEFET-Petrópolis), o doutorando em História Social, Hernán Venegas, da UFF, e a estudante de graduação em Turismo Priscila Nunes, também da UFF.
Conversou-se inicialmente sobre o frutífero debate surgido na lista da ANPTUR, em boa hora, mobilizando colegas de várias partes do país e do exterior, e sobre a necessidade de se dar forma consistente às propostas que ali vão se desenhando. Para que se avance nos debates, envolveu-se novos participantes e construiu-se um grupo sólido, levando em conta a distribuição espacial dos interessados e a complexidade de dar conta da totalidade das questões em escala nacional ou global, os participantes levantaram uma sugestão ainda preliminar, a ser discutida com os demais interessados no tema, que seria a estratégia de formação de redes regionais, onde cada célula trouxesse suas demandas e fossem debatidas num fórum comum a todas elas, seja a lista da ANPTUR, sejam os encontros presenciais, seja qualquer outro canal próprio para o assunto, como um site específico ou uma revista especializada, por exemplo. Assim, compartilharíamos idéias e problemas particulares e os comuns a todas as células, procurando caminhos para desenvolvermos a relação história e turismo/turismo e história. Também foi considerada a importância da participação na ANPUH (a Associação Nacional de Pesquisadores em História), que conta com um grupo de história e turismo.

A demanda regional, um grande entrave para as pesquisas em andamento e projetos dos participantes da reunião, foi colocada em pauta e percebeu-se uma grande angústia do grupo participante com relação à precariedade da valorização da memória e da escrita da história do turismo e da hotelaria no estado do Rio de Janeiro. As discussões giraram em torno da ausência de informações sistematizadas sobre a história e a memória do turismo nesse estado; o abandono e a má conservação dos documentos; o roubo de fontes nos arquivos públicos, como o ocorrido no Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, onde se perderam várias coleções de postais da cidade, entre outros raros documentos; a necessidade de construção da memória do turismo e da hotelaria, com o suporte metodológico da história oral, buscando o início imediato tendo em vista a idade avançada de muitos dos antigos personagens importantes para o turismo e a hotelaria do Rio de Janeiro; a necessidade de criação de um inventário de publicações e das fontes ainda existentes, hoje dispersas, mal acondicionadas e mal divulgadas; a necessidade de criação de projetos de pesquisa com fomento de agências públicas e privadas visando à iniciação científica dos alunos em história e turismo; o diálogo com os cursos de História e a importância da publicação dos produtos das pesquisas para dar visibilidade e consistência ao campo, sem contar a sua relevância social.

Recebemos o apoio e o convite da Comissão do Jubileu de Ouro da UFF (1960-2010), presidida pela Prof. Dra. Ismênia de Lima Martins, do Departamento de História, para a realização de um evento, proposto pelo Hernán Venegas, dentro das comemorações do Jubileu, com a temática das interfaces entre Turismo e História. Dada a urgência dos prazos e articulações para a realização do evento, ainda em 2010, além da dificuldade da busca de patrocínio tão em cima da hora, pensando dentro da estratégia de células regionais, o grupo esboçou preliminarmente a realização de um pequeno encontro, de escala regional, de 1 dia de duração, para marcar o início dos trabalhos. O evento, que será organizado pelo Laboratório de Eventos do curso de Turismo da UFF, congregará as principais escolas de Turismo e História do Estado do Rio de Janeiro para discutir estratégias para impulsionar o desenvolvimento desta relação interdisciplinar na região, compartilhando com outras instituições o projeto de construção desse campo de saber e ouvindo as demandas regionais. Ainda sem data definida, mas prevista para o mês de outubro ou início de novembro, o pequeno evento pretende realizar uma ou duas mesas redondas e um fórum com os representantes das escolas do Estado do Rio, inaugurando os trabalhos dessa célula. Dali espera-se o engajamento de outras escolas e o surgimento de novas propostas para a multiplicação dos trabalhos, fomentando o desenvolvimento do grupo. Convida-se os colegas dos demais estados a participarem.

O grupo discutiu a possibilidade de se realizar um evento mais amplo, no ano de 2011, contemplando a temática sugerida, no qual se buscaria ampliar os resultados do primeiro encontro e abrir espaço para conferências, apresentação de trabalhos acadêmicos e para a realização de visitas técnicas. O André Daibert sugeriu o CEFET Petrópolis como sede, ou pelo menos como sub-sede deste evento. A decisão final sobre as temáticas, o formato do evento e a sede do mesmo, será traçada no fórum mencionado anteriormente.

Enfim, após quase 4 horas de uma proveitosa reunião, onde muitas foram as angústias, as inquietações, as sugestões e as demandas, considera-se que há muito trabalho pela frente, que a tarefa é extremamente grande, mesmo em escala regional e com novos parceiros que tendem a aderir ao que estamos chamando de célula. O grupo concordou que não se conhece suficientemente a realidade nacional e internacional para que se atue nessas frentes e para que possa dar conta da totalidade, o que estimula o diálogo com os colegas das outras regiões a se articularem em células e promovermos trocas intermitentes, somando nossas forças em prol do desenvolvimento científico e turismo do país.

A experiência da reunião alertou para o fato de que há muito o que conversar, que quando encontrarmos os parceiros de outras regiões, que já se pronunciaram na lista e outros que se juntarão ao grupo, teremos um encontro longo, com uma pauta de discussão densa e ficamos receosos de que o próximo encontro da ANPTUR, com uma programação tão intensa e extremamente importante para os participantes, não comporte o nosso debate, necessitando de um espaço maior para as discussões, o que poderia ser uma sugestão para a abertura de um fórum específico para o tema no próximo SEMINTUR. Esta é apenas uma proposta do grupo, tendo em vista as demandas trazidas pelos colegas e a experiência de nossa pauta inicial de discussão.

Texto adaptado da ata da reunião divulgada na Lista da Anptur

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O primeiro vôo do futebol


O Esporte Clube São José (Zequinha), fundado em 24 de maio de 1913 em Porto Alegre/RS, nunca foi campeão da cidade ou do Estado, mas carrega o título de ter sido o primeiro time de futebol do Estado e do País a viajar de avião para uma partida de futebol. O vôo histórico ocorreu em 5 de junho de 1927, quando o time viajou para uma partida contra o Pelotas, na cidade homônima. A viagem durou 2h30min e está registrada nos arquivos da FIFA, como sendo a primeira de um clube de futebol para a disputa de um jogo.

Conforme relato de João Leal da Silva, tesoureiro do São José na época, a idéia de viajar de avião partiu do diretor de futebol do clube, Edgar Vielitz, e do secretário Moisés Antunes da Silva, que conversavam no bonde Menino Deus no retorno de um jogo pelo campeonato da cidade, do São José contra o Fuss Ball Club Porto Alegre, realizado na Chácara das Camélias, onde o Zequinha havia perdido por 3 a 1, no dia 3 de maio. Consultado, o Pelotas aceitou pagar as despesas do avião e a hospedagem da delegação na cidade do Sul do Estado.

Dois dias antes da viagem, que seria feita no hidroavião Atlântico, o secretário Moisés Antunes seguiu de vapor, para acertar os detalhes da estada e da partida, que terminou empatada em 2 a 2. Junto com ele foram três jogadores: Odorico Monteiro, Benedito e Berlina. Na manhã do domingo, dia 5 de junho, fazia frio em Porto Alegre, a temperatura estava em 10 graus. Antes do hidroavião decolar, o presidente do São José, Waldemar Zapp, mandou fazer a histórica fotografia (foto abaixo) de todo o grupo junto ao avião Atlântico, o único da, então, recém criada Varig.

O comandante Rodolfo Cramer ficou preocupado com o peso, pois todos os onze passageiros estavam com casacos pesados. Como havia apenas nove poltronas no Atlântico, o goleiro Alberto Moreira Hausen, o Bagre, e Antônio Neto, pai do técnico Francisco Neto, viajaram no porão, junto com as bagagens. Pontualmente às 10h15min, o Atlântico decolou, após duas tentativas, do aeroporto fluvial da Ilha Grande dos Marinheiros.
O Atlântico, primeiro avião da Varig, fazia a linha regular Porto Alegre/Pelotas/Rio Grande, que havia entrado em operação em fevereiro daquele ano. Além de Bagre e Neto e do comandante Cramer, também estavam os seguintes passageiros: Carlos Albino (chefe da delegação), João Leal (tesoureiro) e os jogadores Álvaro Kessler, Dirceu, Alfredo Cezaro, Cézar Cesaro (Pinho), Nicanor Leite (Nona), Clóvis Carneiro Cunha e Wálter Raabe. (Fonte: Arquivo www.campeoesdofutebol.com.br e SORTICA, Júlio.

Esporte Clube São José, 90 Anos de Paixão e Glórias de um Grande Clube. Porto Alegre: Gráfica Brasil, 2003.

Pesquisas de Sidney Barbosa da Silva. Página adicionada em Março/2009 no http://www.campeoesdofutebol.com.br/hist_fut_rgsul3.html )

quinta-feira, 8 de julho de 2010

O projeto

O objetivo geral doprojeto é contribuir para a maior compreensão dos processos turísticos, em sua interface técnico-gerencial, social e cultural, conforme estes se tenham dado no Rio Grande do Sul, ao longo do século XX. O Rio Grande do Sul marca-se por alguns pioneirismos nestas relações, como, por exemplo, a forte atuação do Touring Club do Brasil no turismo regional, desde a década de 1930 (GOIDANICH, 1993). Já em 1935, o Touring Club responsabilizou-se pelo posto de informações turísticas que atenderia aos visitantes da feira comercial-industrial, comemorativa ao centenário da Revolução Farroupilha. Na mesma década, passa a ser realizada a Festa da Uva, em Caxias do Sul/RS, talvez o primeiro evento turístico cultural, formalmente organizado para tal, a ser realizado no país. Nas décadas seguintes, outros eventos marcarão os avanços do turismo e do sistema cultural, no Estado.

Do ponto de vista metodológico, tendo em vista a ausência de bibliografia sobre o tema, a pesquisa utilizará como técnica a história oral (THOMPSON, 1992), com entrevistas e análise documental, e, para sistematizar as informações levantadas, a análise do conteúdo (BARDIN, 1997). Buscar-se-á como fontes orais os sujeitos com participação ou proximidade aos processos desencadeados; a pesquisa documental terá como base os acervos de dois destes sujeitos, Osvaldo Goidanich e Roberto Eduardo Xavier, depositados na PUCRS; a Revista do Globo; e coleções de jornais do Museu da Comunicação Social do RS. O projeto tem como meta efetuar o levantamento e a sistematização das informações, e seu posterior registro no relatório de pesquisa, mas também em materiais de divulgação científica na forma de cd e/ou livro, além da produção de artigos para pelo menos quatro eventos científicos especializados (Intercom, ANPTUR, ENTBL e Semintur).

Entende-se por Turismo, no corpo da pesquisa, o fenômeno econômico de sistematização e organização das viagens como produto para comercialização no mercado. Nestes temos, envolveria o deslocamento em si (transporte e hospedagem), mas também as demandas que lhe seriam subjacentes (estrutura de serviços e atrativos). A amplitude do fenômeno suporia a presença de um campo turístico organizado, nos termos da teoria de Pierre Bourdieu, para sua produção e reprodução, alimentando um habitus que priorizaria o econômico em detrimento de enfoques sociais e culturais.

O problema de pesquisa se coloca em sintonia com esta grande hipótese apriorística que, ao mesmo tempo em que a questiona, busca encaminhar se a ênfase no econômico suporia, sim, uma campo turístico autônomo e organizado em instâncias – e neste caso, como se daria sua construção de sentido – ou justamente a sua ausência ou debilidade enquanto campo autônomo, quer por questões de produção ou de reprodução.

Quem somos

Este blog tem por objetivo reunir informações e aproximar pesquisadores que trabalhem com a História do Turismo no Brasil. O blog está associado ao Projeto de Pesquisa CAMPTUR - "O Campo do Turismo e suas Construções no Rio Grande do Sul (1935-2000)" e encaminha para o site do Observatório de Turismo e Cultura do Rio Grande do Sul onde o Projeto estará hospedado em breve.

O Projeto CAMPTUR propõe pesquisar a História do Turismo no Rio Grande do Sul, para analisar como se constitui na região o Campo do Turismo.

O Blog, entretanto, está aberto à informações e dados sobre a História do Turismo no Brasil. Nossa preocupação é a de socializar informações, até hoje dispersas, sobre as Viagens e o Turismo no Brasil.

Para que as informações do blog passem a alimentar o site, as postagens serão submetidas a um Comitê de Avaliação, composto pelos professores doutores João dos Santos Filho, Luiz Gonzaga Godoi Trigo, Mário Carlos Beni, Mirian Rejowski, Rafael José dos Santos e Susana Gastal. Os textos aprovados passarão a fazer parte da biblioteca do Site.

Sua participação é muito bem vinda. Vamos construir esta História!